quarta-feira, abril 24, 2013


                Não era para ser assim.

                Eu te olhava e tu me olhavas. Eu em cima de um palco, e tu a única espectadora. Aplaudiste de pé as bizarrices que interpretei e que, por momentos, te fizeram rir, mesmo a ideia das mesmas sendo exatamente o contrário. Desci ao camarim e tu foste ao meu encontro, dizendo que fui fantástico, digno de Cirque Du Soleil. Conversamos por mais alguns bons minutos e, encabulado, convidei-te para tomar um café. Tu aceitaste, e lá fomos procurar uma cafeteria aberta àquela hora da noite. Ideia falha. Te acompanhei até em casa, nos despedimos, tu entraste e eu segui meu rumo.

                Eu te olhava e tu me olhavas. No teu apartamento, tomamos aquele café que dias atrás não conseguimos. Falamos sobre livros, crenças e música. Pediste para eu te apresentar uma banda, e assim fiz. Disseste que não havia como dançar aquela música, te disse para pulares de um lado para o outro, e assim tu fizeste, complementando com um belo chute no guarda roupa. Rimos. Deitamos. Beijamos. Eu não podia demorar, pois tinha trabalhos para fazer, revisar e refazer, todavia tu insististe para eu ficar para a janta. Tu cozinhaste um bom e velho miojo, e, admito, foi o mais delicioso que já comi.

                Eu te olhava e tu me olhavas, e estava tudo às mil maravilhas. Tomamos mate na Redenção, caminhamos pela Andradas e almoçamos as sobras de ontem. Comentamos sobre o quão boa estava a temperatura. Aquele frio que apenas quem é daqui entende. Assistimos alguns filmes e comentamos sobre os mesmos, entramos em consenso sobre “Star Wars” ser a maior série cinematográfica de todos os tempos. Isso, claro, depois de horas batendo boca, afinal tu disseste que “De Volta Para O Futuro” era o maior filme já feito, e após isso eu só lembro de rir sem parar e tu me dares um tapa. Novamente te levei até em casa, paramos em baixo de uma árvore. Da nosso árvore. “Tchau”.

                Eu te olhava enquanto tu virava as costas para ir em direção a qualquer lugar que fosse bem longe. “Não era para ser” e “Eu me diverti muito” foi o que ouvi, "foda-se" foi o que falei. Voltei para casa, quebrei um ou dois copos, baguncei minhas roupas por cada canto e fumei três ou quatro cigarros. Fiquei em êxtase lendo o texto que deixaste em cima da minha cama, que dizia coisas sobre transarmos ouvindo aquela banda que te mostrei há alguns meses, e a maneira que irias tirar a minha roupa. Daqui eu já não te enxergo mais, e sequer consigo imaginar se ainda pensas em algo. Não era para ser assim, Dindi.

segunda-feira, janeiro 07, 2013


                Nós sempre criamos os mais diversos pretextos para escrever o mesmo enredo, com o mesmo personagem, no mesmo lugar. Todo ano, todo mês, todo dia ou toda hora. Mudamos alguns pequenos detalhes para diferenciá-los, afinal mesmice é um saco. Colocamos um “te odeio” no lugar do “te amo”, um “vai” ao invés do “fica” ou o démodé “estou bem” no lugar do “estou com saudade”. Sempre uma mentira no lugar da verdade.

sexta-feira, novembro 09, 2012


   Essa merda de cigarro tem sempre o mesmo sabor.  Amanhã quando eu for comprar mudarei de merda, digo, de marca. Sempre é bom mudar um pouco, não? Para melhor, de preferência. De que adiantaria ser de esquerda e mudar para a direita? E de que adiantaria o contrário? Adiantaria? Não sei. Assim como também não sei se mudar a marca do meu cigarro adiantará alguma coisa, mas eu costumo sempre esperar o melhor de tudo.
                E é desse “sempre espero o melhor de tudo” que eu, geralmente, acabo me ferrando. Eu esperava o melhor daquela guria. Tu sabes de quem eu estou falando? Tudo bem, falo sobre ela outra hora, tenho coisas mais importantes a tratar no momento. Onde eu estava? Ah, sim, eu esperava o melhor dela, e fiz, se não o impossível, o possível para que tudo desse certo. Não deu. Como acontece com quase todo o ser humano, fui trocado por um atleta. Daquele tipo forte, que corre luta joga futebol basquete e o diabo a quatro. Fiquei triste. Realmente triste. Triste o suficiente para comer a irmã dela na outra semana. E não por vingança, por tesão, mesmo.
                Não tenho índole vingativa, e também não tenho inimigos. Eu espero que não, pelo menos. Bom, não há ninguém que eu realmente não goste, afinal todos cometem erros, e eu aprendi que perdoar é sempre uma opção. Será que eu devo perdoá-la por ter me trocada por um atleta? Tudo bem. Eu espero que, ao menos, ele consiga soletrar o nome dela. Voltando ao tema em questão, eu nunca fui desses que leva algo para o lado vingativo. Já levei, não nego, mas não ganhei nada com isso. Aprendi, também, que tratando educadamente quem faz o contrário comigo, me divertirei muito mais. Já notaste que a pessoa sempre se enrola nas palavras ao ser indagado sobre algo a qual não tem argumentos? E quando não se enrola, recomeça a falar tudo de novo, como num ciclo vicioso? Tenho medo dessas pessoas, pois elas tentam te fazer sentir-se errado de toda e qualquer maneira possível, mesmo tu estando certo.
                Eu estou precisando de um bom café e uma boa companhia. Preparo até algo para comermos, mas não garanto que fique bom. Nunca fui um bom cozinheiro, e, sinceramente, nunca me prestei a tentar ser. Assim como nunca me prestei a ser um bom filho ou um bom escritor. Eu apenas segui o fluxo e deixei o tempo mostrar como tudo deveria ser. Falando nesse desgraçado, ele deveria levar umas bochas, pois é sempre quem traz e sempre quem leva. Não há meio termo para o tempo. Talvez por culpa dele eu tenha desistido uma vez da faculdade de jornalismo, tendo que retomá-la pouco tempo depois. Pensei que tinha apenas de esperar o tempo trazer, quando na verdade eu tinha que ir buscar. Esse filho da puta só serve para trazer-nos cabelos brancos e preocupações.
                E o amor? Onde está? Alguém virá dizer: “Calma. O tempo trás”. E tu esperas, esperas, esperas e esperas, acaba vindo uma vaca que te troca por um animal de um metro e noventa de altura e do tamanho de um ogro. Me desculpe, mas eu ainda não engoli essa história. O que eu estou tentando dizer é que se tu esperares pelo tempo, ele trará o que pensa ser melhor para ti, e não o que tu pensas ser. O que eu estou esperando? Não sei. E o que tu estás esperando? Vai atrás de quem tu amas. Se ela não souber, ficará sabendo. E se já souber, tu mostrará o quão sincero é o que sentes. Faz isso. Tenta, pelo menos. Ora bolas, eu estou dando uma de psicólogo para alguém que mal conheço. Eu.
                Escrever sobre amor é um saco, bom mesmo é vivê-lo. O que me deixa triste é saber que há pessoas que não fazem nem um nem outro.

quinta-feira, outubro 25, 2012

Que tal deitar um pouco?
Eu sei que é meio dia
Finja que é meia noite.

Fica mais um pouco
Eu sei que hoje é quarta
Mas finja que é sábado.

Finja que eu sou quem tu sempre procuraste
Que eu finjo acreditar
Eu finjo cozinhar bem
E tu fingirá gostar.

Pisciano, vegetariano, pseudo-compositor e beatlemaníaco.

frases musicadas, solfejos e semitons.